quinta-feira, 19 de novembro de 2009

CORONEL LUÍS ANTONIO THEMUDO GAGLIARDINI GRAÇA


IN MEMÓRIUM




CORONEL LUÍS ANTONIO THEMUDO GAGLIARDINI GRAÇA



Sendo esta página exclusiva da CART 637 forçoso se torna que nela conste o seu Comandante, então Capitão de Artilharia LUIS ANTÓNIO THEMUDO GAGLIARDINI GRAÇA, que, infelizmente, já não está entre nós para nos poder escrever as suas recordações dos dias vividos na nossa Companhia.

Teremos de ser nós a falar dele, o que, embora não sendo difícil, não é fácil fazê-lo em poucas linhas dada a dimensão da sua personalidade.


Falar do Capitão Graça é recordar o Comandante da CART 637, em formação no RAP2 (VILA NOVA DE GAIA) onde nos apresentamos em finais de 1963 para fazer parte da mesma, com destino a Moçambique.

É recordar o Comandante de Companhia:

Que, durante a formação da CART 637, no mesmo RAP2, era extremamente exigente nas instruções de educação física militar e de treino de combate, mas ao mesmo tempo compreensivo e preocupado com os seus soldados, revelando-se um homem de trato fácil e aberto ao diálogo com todos os militares, fossem oficiais sargentos ou praças.

Que naqueles exercícios de IAO, em São Pedro da Cova, sob condições atmosféricas muito adversas, corria as tendas dos seus soldados a informar-se do seu estado, incentivava a audácia nas operações de treino e providenciava a evacuação dos que não estavam em condições físicas de “continuar em combate”.
Que nos primeiros tempos da nossa estada em Maúa, não se conformando com as condições do aquartelamento, iniciou de imediato um conjunto de obras onde, “mendigando” uns “saquitos” de cimento à Engenharia Militar e valendo-se da mão de obra dos seus soldados, conseguiu levar a cabo um conjunto de melhoramentos, nas áreas de saneamento básico, cozinha do rancho geral, abastecimento de água e rede de iluminação eléctrica.

Que quando a Companhia foi destacada para a zona de combate do BCAÇ598 (Vila Cabral) o vimos sempre junto dos seus soldados, preocupado com os riscos que se corriam, mas sem deixar de ser exigente no cumprimento da nossa missão, nunca menosprezando o inimigo nem permitindo quaisquer sevícias sobre prisioneiros inimigos.

Que em todas as circunstâncias punha em primeiro lugar a segurança e dignidade dos seus militares, tendo em cada soldado um amigo, e em Maniamba vimo-lo chorar quando foram mortos em combate o Furriel Carneiro e o Solado Ramos (Algarve).

É recordar o homem amigo:

Que, terminada a comissão, nunca deixou de estar em contacto com muitos dos seus soldados e, a partir de 1980, desde quando passamos a realizar com regularidade os nossos encontros anuais, marcou sempre presença, em ameno convívio com todos os seus ex-militares, que conhecia pelos próprios nomes (alguns até pelas alcunhas) e, embora sendo já Coronel, continuou sempre a ser tratado por Capitão, o que muito prezava e respondia com muita simpatia a esse tratamento, pois para os seus ex-militares continuava sendo o Capitão Graça que os comandou e com eles partilhou bons e maus momentos.


Que nas suas alocuções, nesses mesmos encontros, exaltava os valores da Pátria e exultava os seus ex-militares a não se sentirem diminuídos por terem participado na Guerra do Ultramar, pois fizeram-no ao serviço da Pátria que, conforme nos era ensinado, ia do Minho até Timor.

Que nos últimos anos vinha travando uma luta titânica contra a doença que pouco a pouco o ia minando, mas que, nem por isso, deixava de marcar presença nos encontros anuais, por vezes com reconhecido sacrifício físico.

Até que, na véspera do Natal de 2008, sou surpreendido por um telefonema de um amigo comum informando-me do seu falecimento. Nem queria acreditar. Passei a notícia a outros ex-militares da CART 637 e, apesar do significado da data, muitos marcaram presença prestando uma última homenagem ao seu Comandante.

Perdemos um grande amigo e a CART 637 perdeu a sua figura de referência, mas para os seus militares a imagem do Comandante perdurará para todo o sempre.



Morreu o Coronel Graça, mas o Capitão Graça está vivo e viverá enquanto viver o último dos seus soldados.








ESTARÁ SEMPRE CONOSCO MEU CAPITÃO


TC FARIA BARBOSA

2º Sarg. da Cart 637


5 comentários:

  1. Caros Amigos,

    Em meu nome e em memória do meu querido Pai, gostaria de Vos agradecer e acompanhar neste tributo e de prestar publicamente a minha homenagem ao Soldado abnegado, ao Homem de valores exemplares, ao Marido que tanto amou e ao Pai de uma Dádiva constante, que soube passar testemunho com actos e que se faz sempre presente.
    Que Deus nos dê força para fazer da Saudade uma homenagem constante!
    Obrigado Amigos que sempre nos acompanharam e continuam a acompanhar,
    A Deus querido Pai, até ao dia do reencontro!

    Luís Miguel Gagliardini Graça
    luismiguelgraca@gmail.com

    ResponderEliminar
  2. Bem haja! A estes sinais de corporação portuguesa que tanto faltam á nação nos tempos de hoje!

    ResponderEliminar
  3. Depois de ler esta página, senti o impulso de revelar a forma como olhei o tio e padrinho desde que a memória de criança despertou.

    Era o mais novo de cinco irmãos e, sem dúvida, o mais bonito! Era militar e, fardado, tinha umas botas enormes que imponham respeito…

    Lembro-me pela primeira vez dele, talvez quando chegou da Índia, lembro-me dele apaixonado e do casamento de conto de fadas onde tive a honra de ser caudatária juntamente com as meninas pequeninas da família (o Tio Luís era muito rico em sobrinhos…).

    Os tempos eram difíceis para os militares e jovens rapazes e a vida desta família foi feita de idas e de vindas.

    Quando chegavam, a casa dos avós ficava cheia de luz de um Sol mais brilhante…mas esse tio mais novo, partiu deixando a mulher grávida, chegou e já lá não estava a Avó… voltou a partir, voltou a chegar e viu o nascimento do Luís Miguel, e, mais uma vez a casa dos avós se encheu do brilho mágico.

    Em todos os casamentos da família lá ia ele entregar a espada aos noivos para partirem o bolo. Que fascínio para os olhos de uma jovem como eu.

    Aprendemos rápido que o Tio Luís era um resmungão com coração de mel o que me deu a possibilidade de o ver como um irmão mais velho: tratava-o por tu e rezingávamos um com o outro com a mesma facilidade com que lhe pedia a bênção de padrinho e lhe entregava o ramo pela Páscoa…

    No dia de Consoada, partiu sereno e bonito como sempre foi… não sem antes recomendar à sua Benedita que fizesse umas rabanadas bem saborosas!



    Páscoa de 2010



    Tucha

    Hpinho56@sapo.pt

    ResponderEliminar
  4. Entrei para a família GG em 1970 e tive a sorte passar a ser prima do Luís!
    Que bom era tê-lo presente nos dias de festa em nossa casa ou numa casual visita feita sem razão especial; só porque "me apeteceu e bati à porta".
    Estar, hoje, com a mulher ou com os filhos é ter a certeza que a sua personalidade deixou marca. E que felizes se podem sentir por terem alguém deste calibre para recordar!

    A prima (por afinidade)
    Maria

    ResponderEliminar
  5. Tive o grande prazer se conhecer o senhor Coronel Luís Graça, foi um grande pai, um excelente marido e uma jóia de patrão. Posso dizer que ele foi um segundo pai e um segundo avô para mim. Pode já não estar presente fisicamente mas posso dizer que está sempre presente nos nossos corações e nos nossos pensamentos. Obrigado e até já.

    ResponderEliminar