domingo, 14 de março de 2010

RECORDANDO o Primeiro-Sargento MARTINS



O 1º Sargento Martins é mais um de tantos militares da CART 637 que já não está entre nós e que me parece merecer ser citado neste espaço da Companhia, pois foi um camarada que connosco viveu bons e maus momentos.
Juntamente comigo (2º Sarg. Barbosa) e com o Comandante da Companhia (Capitão Graça) constituía o reduzido número de militares do quadro permanente, entre os 164 elementos da Companhia.
Tendo sido prisioneiro de guerra aquando da invasão do Estado Português da Índia pelas forças da União Indiana em 1962, encarava a situação em Moçambique com naturalidade e até com alguma ironia, preocupava-se sobretudo com a contabilidade da Companhia (sua principal função) e com as condições de vida e bem estar aos militares, relativizando a situação se guerra que ali se vivia.
Era apaixonadamente um amante da caça, mas sendo inexperiente no ataque á caça grossa, tornou-se presa fácil de um leopardo (já ferido por outros caçadores) que o atacou de surpresa em plena selva. Contudo soube resistir até ser ajudado por outros militares que mataram a fera enquanto o 1º Martins com ela lutava apenas com as próprias mãos. Ficou bastante ferido e guardou como recordação as unhas do animal.…
Sempre alegre, era para todos nós apenas o elemento mais velho da Companhia que nos transmitia experiência e ao mesmo tempo boa disposição, de que era plenamente dotado.
Quem não se lembra da sua célebre frase,”nunca jamais em tempo algum” proferida vezes sem conta enquanto tamborilava entre os dedos a tampa da LAURENTINA (cerveja de Moçambique)?
Depois de regressarmos de Moçambique, e desde que passamos a realizar com regularidade os nossos encontros anuais, poucas vezes o vimos connosco porque o seu estado de saúde era cada vez mais precário e, nos últimos tempos da sua vida, assistia apenas à nossa concentração na Serra do Pilar, desculpando-se com reuniões familiares ou outros compromissos para não ir ao almoço, quando todos sabíamos que não ia para que a tentação não o levasse a abusar de alimentos e bebidas que lhe eram proibidos pelo médico.
No fim de uma manhã de domingo (já não sei de que ano) li no jornal a notícia do seu falecimento, cujo funeral se havia já realizado ás 10h00. Já era tarde e não pude assim acompanhar à sua última morada aquele grande amigo de todos os militares da 637.
Hoje recordo-o com saudade e penso que como eu todos os ex-militares da CART637, pelo que nesta página podemos dizer:
Estás connosco 1º Martins e não te esqueceremos “NUNCA JAMAIS EM TEMPO ALGUM”


T.C.FARIA BARBOSA
2º Sarg. da CART637